Reuso de água: saiba o que é e como funcionam as alternativas de reaproveitamento deste recurso

Marcelo Pimentel

Jornalista formado na PUC/RJ com 25 anos de atuação em veículos especializados em alimentos, agricultura e pecuária.



Nos últimos anos, as discussões acerca da preservação dos recursos naturais vêm sendo abordadas na agenda de órgãos ambientais, de governos, de empresas e da própria população. Isso porque, o aumento da população mundial, associada ao desenvolvimento desordenado das cidades e das atividades industriais e agropecuárias, exige uma demanda muito maior de recursos do que a natureza pode e consegue fornecer.

reuso de água

Nesse cenário, a escassez da água é um dos maiores problemas ambientais enfrentados pela sociedade moderna. É por esse motivo que muito se fala sobre a busca de alternativas que visam o uso consciente e o reaproveitamento desse recurso. Assim, uma das principais preocupações das políticas ambientais na atualidade, é encontrar soluções que facilitem o reuso de água.

O que é reuso de água

A água de reuso é aquela obtida através de um processo de purificação e tratamento pelo qual passa um efluente (água que já foi usada). Esse tratamento é necessário para que a água possa ser utilizada novamente, mas, dependendo da finalidade para a qual ela vai ser reutilizada, ele não é necessário.

o que é reuso de água

A água de reuso deve estar de acordo com os parâmetros de qualidade determinados pela legislação brasileira e pode ser usada para fins potáveis e não potáveis. Por se tratar de uma água de qualidade inferior, existem riscos quanto à persistência de organismos e compostos orgânicos sintéticos que podem ser prejudiciais à saúde, fazendo com que, em alguns casos, ela seja inviável para o consumo humano. Portanto, quando falamos no reaproveitamento de água, o uso para fins não-potáveis deve ser a primeira opção para evitar tais riscos.

No geral, o reuso dos recursos hídricos visam o controle de perdas e desperdícios, além da minimização da produção de efluentes e do consumo de água.

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Água residuária e água de reuso

Segundo o artigo 2º da Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005, do CNRH (Conselho Nacional de Recursos Hídricos) as águas residuárias são classificadas como “efluentes líquidos de edificações, água descartada, esgoto, indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não” normalmente, são aquelas resultantes de diversos processos.

Já a água de reuso é a água residuária que passa por tratamento especializado a fim de se enquadrar nos padrões de qualidade exigidos e, posteriormente, serem reaproveitadas para consumo ou outras atividades.

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Tipos de reuso de água

O reuso de água pode ocorrer de maneira direta ou indireta, sendo ele planejado ou não. Segundo a organização Mundial da Saúde, essa classificação é feita da seguinte maneira:

tipos de reuso de água
  • Reuso indireto não planejado da água: ocorre quando a água já utilizada por alguma atividade humana é devolvida à natureza, sendo utilizada novamente de maneira não intencional e não controlada, à jusante (rio-abaixo), em sua forma diluída.
  • Reuso indireto planejado da água: ocorre quando a água de um efluente tratado é despejada nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas para posteriormente serem utilizadas de forma consciente e planejada à jusante. Para isso, é necessário um controle sobre possíveis descargas e que esse efluente atenda aos requisitos de qualidade estabelecidos pelos órgãos competentes.
  • Reuso direto planejado da água: esse procedimento é o mais usual e ocorre quando a água de reuso é encaminhada diretamente ao local de utilização, não passando pelo processo de diluição ou despejo nos corpos hídricos. É um procedimento deliberado e planejado, sendo destinado, exclusivamente, para certas finalidades como uso industrial, irrigação, recarga de aqüífero e água potável.

Águas da chuva

A chuva é um recurso natural com grande potencial de utilização, mas que, no Brasil, é desperdiçada e acaba se misturando ao sistema de esgoto. Segundo relatório da ONU, a escassez de água é um problema grave e afetará dois terços da população até 2050. Esse fato, portanto, exige a busca por alternativas que visam reaproveitamento de água para diminuir o impacto ao meio ambiente e à população.

reuso de água da chuva

Visto isso, o reuso de água da chuva é uma medida inteligente e sustentável que pode ser tomada a fim de preservar os recursos hídricos do nosso planeta e nos permite dispor de uma reserva de ótima qualidade. Por via de regra, a água da chuva deve ser usada para fins não-potáveis, sendo destinadas a atividades como a  irrigação de áreas verdes, lavagem de piso e descarga de vaso sanitário. Essa atitude garante, por si só, uma grande economia diária no volume de água em locais onde possuem o sistema de aproveitamento de água, seja em residência, hotéis, clubes, etc.

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Captação da água da chuva

Uma das alternativas para o aproveitamento de água da chuva que vem ganhando popularidade, uma vez que é bem simples, é o sistema de captação por meio de cisternas. As cisternas são reservatórios de baixo custo onde a água da chuva é armazenada para posteriormente ser utilizada para o uso doméstico em geral.

Primeiro é necessário qualquer superfície que possa condensar o escoamento da água até as calhas, depois ela será conduzida até o um filtro que reterá a sujeito bruta, como galhos e folhas. Após esse processo inicial, a água é enviada para o reservatório.

Como tratar água da chuva

Embora seja uma solução que só deve ser utilizada em situações extremas, existem alguns casos onde é necessário que a água da chuva se torne apta ao consumo humano, ou seja, potável. Para isso, ela deve passar por um processo de cloração (adição de cloro) que visa diminuição da carga de germes e micróbios que podem ser prejudiciais à saúde.

Como aproveitar o reuso de água

Nas residências, a captação da água de reuso é feita por meio dessas cisternas e, além da água da chuva, o reaproveitamento também pode se dar a partir da água cinza que são as provenientes de banhos, lavatórios de banheiro e máquinas de lavar, ou seja, as que não entram em contato com águas negras que são misturadas com fezes, urina, restos de matéria orgânica e de óleos. O reuso da água cinza pode ser aproveitado em descargas sanitárias, limpeza de pisos, paredes, quintal e veículos.

O reuso da água na indústria é conveniente sobre diversas perspectivas, uma vez que propicia benefícios econômicos, ambientais e sociais. Essa água é chamada “água não nobre”, ou seja, que não é própria para consumo. Ela pode ser usada tanto nos processos industriais, como resfriamento de equipamentos através da troca de calor, quanto nas atividades mais corriqueiras, como lavagem de peças e equipamentos, irrigação de áreas verdes, lavagem de pisos e veículos, entre outros.

Aplicações da água

A água de reuso pode ser aplicada para fins:

  • Urbanos: irrigação paisagística de parque, cemitérios, campus universitários, gramados residenciais e telhados verdes, lavagem de logradouros públicos e veículos, descarga de vasos sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas e pontos de ônibus, construção civil, edificações; combate a incêndio dentro da área urbana, etc;
  • Agrícolas: produção agrícola, plantio de forrageiras, plantas fibrosas e de grãos, plantas alimentícias, proteção contra geadas;
  • Ambientais: aplicação em pântanos, terras alagadas, indústrias de pesca, aumento de vazão em cursos de água, projetos de recuperação do meio ambiente;
  • Industriais: refrigeração, alimentação de caldeiras, água de processamento e outras atividades e processos industriais;
  • Outras finalidades: recarga de aquíferos, controle de intrusão marinha, controle de recalques de subsolo, criação de animais ou cultivo de vegetais aquáticos, entre outros.

Marcelo Pimentel

Formado em jornalismo pela PUC/RJ, há 25 anos atua no jornalismo especializado voltado para alimentos, agricultura e pecuária. Começou em 1995 como repórter na Revista Manchete Rural, onde foi também redator e chefe de reportagem. Fundou a revista Panorama Rural (1998) e o Portal Dia de Campo (2008), no qual publicou mais de 11 mil artigos, entrevistas em áudio e vídeos sobre o assunto.